Escrever é como se apaixonar todos os dias
Um dia você acorda, olha para aquela pintura do outro lado da sala que você nunca reparou, chega perto dela e se pergunta o que aconteceu quando o artista a pintou
Porque ele quis usar aquele tom de azul celeste em vez de azul bebê. Te dá vontade de sentar em um banco no meio do nada dentro daquele quadro e esperar a vida passar.
Você passa em frente a calçada da sua casa, rumo ao mesmo mercadinho que você vai todos os domingos, e parece que o céu acima de você também escolheu outro tom de azul
Você sente o cheiro do vento, escuta o canto dos pássaros e isso te lembra aquele pedaço de pano bordado que ficava jogando num canto da cozinha, ao lado dos azulejos pintados a mão com desenhos de sol e de flores
As flores dos azulejos quase ganham cheiro e som. Som de recomeço, de quem escolhe primeiro o que vai acontecer, cheiro de vida e uma sensação de se sentir suspenso no ar
Você se senta, pega uma caneta ou lápis de cor, um pedaço de papel gramatura noventa, olha pra janela que te lembra o passado, o presente e o futuro e começa a escrever.
Você rabisca um esboço horrível de como você gostaria de escrever um romance ou ficção que não parecesse banal
Escreve sobre suas memórias mais felizes e inventa uma série de outras coisas que nunca viveu
Até que se dá conta, depois de algumas horas, que o café que você pegou pra te acordar ainda está na xícara e frio. Tem tipo de sonho que se demora porque não sabe quem o fez.
Escrever é como se apaixonar pela mesma vida de formas diferentes mais de uma vez.